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Johnny Depp ou Amber Heard: Quem foi que errou mais?


Se encerrou um dos processos judiciais mais acompanhados dos últimos tempos, entre os atores e ex marido e esposa, Johnny Depp e Amber Heard. O divórcio entre os dois já aconteceu há algum tempo, não é isso o julgamento, mas sim uma acusação de difamação feita por Johnny Depp contra sua ex.


Pra quem não sabe o que está rolando, pequeno resumo. Os dois foram casados, tinham uma filha. O casamento foi meio turbulento, eles se separaram. Após o divórcio, Amber Heard escreveu um artigo numa revista muito cultuada, falando sobre relacionamentos abusivos e que sofreu diversas agressões, verbais e físicas, no seu relacionamento, insinuando que foi agredida por Johnny Depp.


O caso caiu como uma bomba e muitos jornais e meios de mídia exploraram o artigo, aumentando o caso contra o ator a ponto de que a Disney, que tinha um grande contrato com ele por conta do seu papel em Piratas do Caribe, franquia bilionária que cresceu por conta do ator, correu em demiti-lo, como uma forma de expressar apoio a mulher agredida.


O ator aguentou o baque em silêncio por muito tempo, até que depois de ficar muito tempo sofrendo acusações de diversos lados por ser um péssimo ex-marido e ver que sua popularidade caia junto com sua reputação, resolveu trazer a tona a sua versão da verdade. Processou sua ex por difamação, junto com as muitas provas que tinha que, na verdade, quem cometia abusos no casamento era justamente a atriz.


O julgamento foi complicado. Muito da vida conjugal foi exposto pro mundo e a coisa não foi bonita. Sabe aqueles programas baixaria da tv, que a mulher chega dizendo que tá grávida de um cara, que só ficou com ele, que era pura antes dele... aí sai o resultado e não foi o cara? Então, a conclusão foi essa: ficou claro para o júri, o juiz e o mundo, que quem era a abusadora era a mulher, que o que ela disse dele era mentira. E agora, ela vai ter que pagar uma indenização milionária para o ex marido.


Mas vamos a pergunta do título: quem é o mais errado? Na minha opinião, nem ele, nem ela. Somos todos nós, quando nos apressamos a ouvir somente um lado da história e ignorar a outra parte. Todas as vezes que nos apressamos em julgar e condenar, erramos gravemente, para com os envolvidos no problema, com a sociedade, com nós mesmos.


Denzel Washington, famoso ator norte americano disse: "Se você não lê o jornal, você é desinformado. Se você lê o jornal, você é mal informado!" É uma afirmação poderosa. Nos tempos de hoje, com tanta informação disponível instantaneamente, parece um pecado não saber de algo que está acontecendo, ao mesmo tempo que uma rápida olhada num título e numa matéria rasa, dão a qualquer um a coragem e ar de sabedoria de um expert. Da mesma forma, parece também dar o direito de opinar, julgar e condenar qualquer um, instantaneamente. Mas o preço disso é alto.


As pessoas parecem não se dar conta do impacto que certas ações ou julgamentos tem na vida das pessoas. Gostaria de lembrar duas situações que aconteceram há alguns anos atrás, uma na cidade de São Paulo, outra no litoral.


Na primeira, uma escola particular infantil foi denunciada por abusar de uma criança. A mídia logo correu para mostrar a escola, o endereço, as fotos dos donos e falar mais ou menos do caso. Num instante, todos os pais retiraram seus filhos da escola, a mídia perseguia os donos da escola nas semanas seguintes até que, em menos de um mês, veio à tona que a denúncia era falsa. Nenhuma criança havia sido abusada, nada daquilo havia acontecido. Mas o estrago já estava feito: a escola faliu e os donos, que eram pessoas honestas, estavam com o nome na lama.


No segundo caso, ainda mais grave, uma mulher andava numa feira livre, numa cidade do litoral de São Paulo, quando uma pessoa começou a dizer que ela era uma fugitiva da polícia, que havia matado o filho. A mulher tentou se desvencilhar, foi cercada pelas pessoas da feira, que ouvindo repetidamente o que ela fez e a vendo tentando fugir, a amarraram e começaram agredir. A mulher foi espancada em público, em plena luz do dia, e morreu ali. Para em menos de algumas horas, descobrirem que aquela não era a fugitiva, era realmente uma mulher local que estava indo a feira.


Quanto de reputação e sangue inocente estamos dispostos a ter nas mãos, pela pressa na justiça? Aliás, não se trata de justiça, mas de vingança! Esse é o sentimento que está em muitas pessoas que querem ver os acusados pagar, infelizmente. E não necessariamente parte das vítimas, mas daquelas pessoas que se doem pelas vítimas, vêm nelas seres humanos sofridos, e se esquecem que os que são, ou pensa-se que são, agressores, também são pessoas que precisam de ajuda.


Em qualquer área da nossa vida, podemos passar por isso. E é interessante que nosso pensamento sempre se alia ao da vítima e ignora, que a qualquer momento, sem que possamos imaginar, podemos nos tornar os agressores, pelo menos aos olhos dos outros menos informados, e sofrermos a punição que der na telha de uma turba enfurecida.


Me lembro de uma estória sobre o começo da formação da China, escrita no livro "Os Cavalos Celestiais", de José Freches. Nesse livro, existe a estória de Hanfeize, um legislador que se incomodava com a demora do processo judicial e criou um novo, mais simples e eficaz. O sistema era assim: para um crime ser relatado, não era necessário prova, bastava que alguém fizesse uma denúncia, mesmo que anônima, para a pessoa denunciada ser imediatamente presa e interrogada, até confessar o crime, na maioria das vezes sob torturas horríveis. Assim que confessava o crime, a pessoa era condenada à prisão ou à morte.


Hanfeize se orgulhava do sistema que havia criado e estava muito satisfeito, pois havia acelerado a justiça em seu país. Até o dia que roubaram os cavalos do imperador e uma denúncia anônima foi feita, acusando Hanfeize do roubo. Imediatamente ele foi preso, mesmo sendo um ministro, para ser interrogado, torturado, condenado e então, morto por um crime que não cometeu, como muitas outras vítimas do sistema que ele mesmo criou.


Já dizia o mestre Jesus: "Não julgueis, pois da mesma forma que julgares, também vós sereis julgados". Mas e aí, desse jeito então, passamos um pano para todos os problemas? Todo mundo vai fazer o que quiser e ninguém vai fazer nada, por conta dessa regra?


Não é bem assim. Pelo menos, dentro do nosso mundo cotidiano, na nossa família, entre amigos, cônjuges, colegas de trabalho, podemos sempre adotar uma postura mais sensata. É preciso identificar se há ou não um problema e se há uma parte queixosa. Se for o caso, como forma de apoiar quem se mostra como vítima, é importante dar proteção a essa pessoa e iniciar um diálogo com quem é dito como agressor. Entender o outro ponto de vista, saber o que aconteceu. Se possível, coletar evidências e confrontar os envolvidos que parecem querer distorcer os fatos, por ignorância ou por vontade própria.


À partir disso, identificar o papel que cada um teve no conflito e ajudar ambos a resolverem a situação. Lembrando sempre de proteger a parte que é realmente a vítima e tomando as medidas cabíveis para aquele que é agressor.


Tomar atitude é necessário, mas o julgamento não. Por trás de certas ações, estão intenções e motivações que não compreenderemos tão profundamente. Troquemos o julgamento, que pede uma condenação, por entendimento, que pode nos levar a tomar ações positivas e evitar difamações desnecessárias, problemas e conflitos que não levam a lugar algum.


E citando novamente o mestre Jesus, que seja nosso falar "sim, sim, não, não", ou seja, que possamos falar com certeza somente daquilo que realmente soubermos e estejamos aptos a contribuir. O mundo já tem escândalos e caluniadores demais, não precisamos ser nós mesmos mais destes.


E você, acha que essa lição teria evitado muita dor de barriga e discussão que os seguidores do casal do título do artigo tiveram?

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